Pro casamento não virar comercial de margarina…

 

Sempre fui intempestiva nos relacionamentos. Mesmo não sabendo exatamente o que significa isso.

Normalmente puxava a briga. Guerreava. Atacava mais um pouco. Quebrava alguns objetos à frente. Rasgava camisa. Lançava sapatos. E alguns voltavam. Merecidos.

Hoje sinto-me velha ou talvez desgastada para a função.

Depois que casei as brigas continuaram, sim. E sou sempre eu que faço questão de começar. A briga me dá força. Me dá vida. E pensem o que quiserem disso. Não me importo mesmo. E acho que até o fim da minha vidinha medíocre vou continuar brigando.

Quase sempre estou sem razão. Mas só me dou conta disso depois que a tempestade já passou. Apesar de eu achar que ela nunca passa. Pra mim ela fica à espreita esperando o momento de maior tranquilidade pra dar o bote.

Meu marido não gosta de brigar. Sempre muito calmo quer apaziguar tudo. Não sabe discutir, não gosta de discutir. Prefere me dar razão a ter uma briga.
Eu me oponho. Até quando ele me dá razão.

Casei com a pessoa mais calma do mundo. O Dalai Lama do mundo ocidental. E tenho certeza que meu casamento já teria acabado há muito tempo não fosse esse temperamento dele. Ainda assim eu peço o divórcio quase toda semana.

Não tenho muito o que reclamar do mala. O apelidei desse jeito, mas na real ele nem é assim. Foi uma forma de extravasar todo e qualquer sentimento amargurado dentro de mim.
Ele é gentil, me liga o tempo todo, não faz nada sem que eu saiba, não me dá motivos pra desconfiar dele. É trabalhador, inteligente, excelente cozinheiro – e adora cozinhar pra mim – e além de tudo é magro, alto e não reclama dos meus pneuzinhos extras. Gosta de jogar futebol uma ou duas vezes por semana, o que me garante um tempo pra eu estar com minhas amigas ou até mesmo pra curtir a casa sozinha.

Mas eu não gosto de felicidade ao extremo. Pra mim não cheira bem.

Eu sempre desconfiei que no final do comercial de margarina, depois do beijo carinhoso na esposa e de correr pelo quintal com as crianças com um pulôver azul-bebê amarrado no pescoço o cara dizia à mulher: “Estou tendo um caso” ou “Sou gay”.

Então prefiro brigar. Lutar. Quer algo mais saboroso que dar uns bons berros como num filme de Felinni? Vou achando problemas na forma dele comer, andar, falar, dormir a ter que suportar uma vida perfeita que não existe.

Hoje mesmo foi um exemplo. Pela manhã ele me deu uns 57 beijos antes de levantar. Fez café e me levou na cama com pãezinhos prensados na chapa com manteiga. Me deu mais beijinho e ainda disse “eu já disse que vc tá linda hoje?”.

Sorri. Tomei o café. Comi o pãozinho quentinho que, por sinal, estava realmente uma delícia. Sinto o gosto dele até agora na boca.
Ele aparece com a mochila nas costas. Avisa que está indo para o futebol. Dá mais beijo.

Mas preciso fazer alguma coisa antes que ele vá embora.  E é aí que o nosso comercial de margarina acaba. E os golpes verbais começam.

Quando ele sai eu penso mil vezes em fazer minhas malinhas e ir embora. Digo pra mim mesma “hoje eu vou embora e nunca mais vou voltar.” Mas um minuto mais tarde me acalmo. Sei que tudo vai voltar ao normal daqui a pouco. Mas fiz minha parte.

Quando chegar em casa certamente terá tomado uns bons copos de cerveja, terá falado mal da mulher ranzinza que tem e provavelmente da gostosa da Luana Piovanni que ele ACHA que é melhor do que eu.

Pelo menos nunca vou ter dentro de casa um pseudo-homem com um pulôver azul-bebê.

Sobre naoaguentomaisele

Casei com um cara. Mal conhecia ele. Foi uma paixão meio intensa. Aí a gente tá junto. E eu já não aguento mais ele.
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2 respostas para Pro casamento não virar comercial de margarina…

  1. me liga disse:

    Prezada linda esposa, desejo de todos os bons homens do planeta. Deves ser a mais linda, gostosa e sexualmente ativa de todo o universo. Uma dica, #ficaadica: DEPAKOTE OU DEPAKENE – é um ácido, o ácido valproíco – pega com seu psiquiatra… vai te ajudar a entender que a vida, não é assim, como você viver e sim diferente. Deixa de ser besta e aprenda a viver… Reclamar ou gritar como num filme de Felinni é legal, mas você, não me parece digna de alguma merda que Felinni tenha feito!

  2. Não creio que só agora vi esse comentário! Sensacional!
    Agradeço muito suas dicas, mas preciso de algo mais forte que depakote. Sabe como é!
    Porém, seu post funcionou muito bem como antidepressivo.
    Obrigada pela audiência!
    Me liga!

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